P>Embora esta seja a primeira menção de ‘Rumpelstiltskin’, o livro de Fischart foi na realidade uma adaptação solta de um livro anterior, o do francês François Rabelais (1483 – 1553). Estes dois homens eram satiristas e humoristas habilidosos, que se deleitaram muito em manipular e inventar palavras ou frases. A obra de Rabelais The Life of Gargantua e de Pantagruel (publicada entre 1534 e 1564) relatou as aventuras de dois gigantes, apresentando muita crudicidade, humor escatológico e violência. Elementos que muito divertiram Fischart!
p> Pensa-se que o nome ‘Rumpelstiltskin’ tenha derivado de um jogo infantil antigo
Este início ‘grosseiro’ ajuda a explicar o formato da narrativa de Rumpelstiltskin tal como a conhecemos hoje – não há princesas bonitas, resgatadas por cavaleiros a cavalo. Em vez disso, a história gira em torno de uma jovem mulher (frequentemente representada por uma filha preguiçosa e ingrata), casada com um Rei através de meios desonestos, e do personagem ‘duende’ que se auto-protege e que fornece o dúbio ‘auxílio’ (a história de O Pequeno Alfaiate Valente também apresenta um protagonista igualmente auto-protector). Os nomes são também de grande significado no folclore; a única personagem que geralmente tem um nome é Rumpelstiltskin (Tom Tit Tot na variante de Joseph Jacob, Whuppity Stoorie para Robert Chambers, Kinkach Martinko no conto eslavo, ou Titteli Ture na história sueca, a lista continua…). Só quando a jovem descobre o nome ‘homenzinho’, é que ela ganha poder sobre ele.
O nome ‘Rumpelstiltskin’ também poderia sugerir um tema mais sombrio, com ‘rattle stiltzinho’ a assumir uma interpretação fálica. A criatura impetuosa ‘faz ouro’ com a jovem todas as noites, e depois exige o seu primeiro nascimento (que pode muito bem ser dele para levar). Assim, a história poderia ser interpretada sob a forma de um ‘conto de mulheres’; um prenúncio sobre como poderia ser a vida de casada para uma mulher jovem, sem instrução e facilmente manipulada. É apenas quando a rapariga souber o que chamar ao diabinho visitante (ganhando assim conhecimentos masculinos), que será capaz de controlar o seu próprio destino. Na derivação mongol, The Use of Magic Language (a única história que apresenta uma pista masculina), o príncipe é explicitamente enviado numa demanda “para ganhar conhecimento”, antes de encontrar o seu fim prematuro.
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Tais elementos também sugerem uma narrativa ‘sombra-animus’, um conto de vinda da idade, onde o jovem protagonista é ‘encurralado’ até ser capaz de crescer até à maturidade, rebelando-se contra os mais velhos. A jovem rapariga (como a personagem é mais frequentemente retratada) foi afinal traída três vezes por aqueles que se encontram numa posição de confiança; o seu pai, o seu marido, e a personagem Rumpelstiltskin. Três é também um número altamente significativo, representativo da Santíssima Trindade; há três fadas na variante italiana de Giambattista Basile; três noites de fiação, e três “presentes” que a jovem deve dar a Rumpelstiltskin no conto dos Grimms (o colar, o anel e o primogénito); três palpites permitidos por Tom Tit Tot (a variante inglesa) e novamente, três dias de cativeiro no conto eslavo de Kinkach Martinko.
Além de alterarem o nome do antagonista, as diferentes versões da Europa e do mundo em geral apresentam a narrativa de base de formas impressionantemente imaginativas. Giambattista Basile, poeta e cortesão napolitano, publicou a primeira versão impressa do tipo Rumpelstiltskin na sua Pentamerone (1634 – 36). Embora diferindo substancialmente do conto posterior dos Grimms, Basile introduziu as principais características da narrativa; a mentira sobre a capacidade da jovem rapariga de fiar linho, o seu posterior casamento com um marido rico (embora exigente), e a “ajuda” do ajudante (desta vez fadas, em vez do imp). Crucialmente, porém, a história de Basile é a única versão a não ter um jogo de adivinhação de nomes.
A versão sueca apresenta o personagem Rumpelstiltskin (chamado Titteli Ture) como um homem feio e deformado, descrito mais tarde no conto como um anão. Esta mudança é significativa, e sem dúvida uma tradução errada, como no alemão original, os Grimms referiam-se a Rumpelstiltskin como um ‘männlein’ (homenzinho) em oposição à palavra ‘Zwerge’, que significa anão. Nas narrativas tradicionais de contos de fadas, os anões são seres em grande parte irrelevantes, com poucos ou nenhuns poderes mágicos. Em contraste, os Männlein são mais associados à bondade, por exemplo nos Grimm’s The Three Männlein of the Woods, as criaturas sábias e conhecedoras ajudam a jovem a casar com o príncipe.
Indeed, embora ele não pareça bom, Rumpelstiltskin é incrivelmente conhecedor, sendo capaz de girar o ouro que a jovem mulher necessita. A própria fiação tem conotações óbvias com o destino (os três destinos), como a actividade que é utilizada para controlar os destinos das pessoas. Se Rumpelstiltskin é assim tão sábio e poderoso como as imagens sugerem, porque é que dá então à jovem mulher uma oportunidade de escapar à sua fatídica promessa, e manter o seu primogénito? Rumpelstiltskin poderia ser retratado como um personagem diabólico, tentando tentar a mulher para o pecado de desistir do seu filho. Mas ao oferecer à mulher uma oportunidade de ‘redenção’, o seu comportamento sugere o temperamento de dupla face de männlein, fadas, impa e semelhantes, com elementos bons e maus para o seu carácter.
No final do conto dos Grimms (embora não em nenhum outro), Rumpelstiltskin rasga-se simbolicamente em dois, revelando assim a sua natureza dupla. Não há moral explícita na história, poderia ser lida como um aviso contra fazer promessas que não podem ser cumpridas, ou um aviso contra gabarolice, ociosidade ou mentiras, ou mesmo um conto de advertência de que a transformação (transformar palha em ouro e a rapariga em rainha), não vem sem um preço. Mas, como em todos os grandes contos, a interpretação exacta é deixada ao leitor.
Como prova da capacidade desta história para inspirar e entreter gerações de leitores, Rumpelstiltskin continua a influenciar a cultura popular internacionalmente, emprestando elementos de enredo, alusões e tropas a uma grande variedade de meios artísticos. O conto tem sido traduzido em quase todas as línguas do mundo, e muito excitantemente, continua a evoluir nos dias de hoje.