O saldo orçamental do governo é um dos três principais saldos sectoriais na economia nacional, sendo os outros o sector estrangeiro e o sector privado. A soma dos excedentes ou défices nestes três sectores deve ser zero por definição. Por exemplo, se existe um excedente financeiro estrangeiro (ou excedente de capital) porque o capital é importado (líquido) para financiar o défice comercial, e existe também um excedente financeiro do sector privado devido à poupança das famílias que excede o investimento empresarial, então, por definição, deve existir um défice orçamental público, pelo que todos os três líquidos a zero. O sector governamental inclui os governos federal, estatal e local. Por exemplo, o défice orçamental do governo dos Estados Unidos em 2011 foi de aproximadamente 10% do PIB (8,6% do PIB do qual era federal), compensando um excedente de capital de 4% do PIB e um excedente do sector privado de 6% do PIB.
O jornalista financeiro Martin Wolf argumentou que mudanças repentinas no sector privado de défice para excedente forçaram o saldo do governo a um défice, e citou como exemplo os Estados Unidos: “O saldo financeiro do sector privado mudou para excedente pelo quase inacreditável total acumulado de 11,2% do produto interno bruto entre o terceiro trimestre de 2007 e o segundo trimestre de 2009, que foi quando o défice financeiro do governo dos EUA (federal e estatal) atingiu o seu pico… Nenhuma alteração da política fiscal explica o colapso em défice fiscal maciço entre 2007 e 2009, porque não houve qualquer importância. O colapso é explicado pela mudança maciça do sector privado de défice financeiro para excedente ou, por outras palavras, de boom para bust”
Economista Paul Krugman explicou em Dezembro de 2011 as causas da mudança considerável do défice privado para excedente: “Esta mudança enorme para excedente reflecte o fim da bolha da habitação, um aumento acentuado da poupança das famílias, e uma queda no investimento empresarial devido à falta de clientes.”
Os saldos sectoriais (também chamados saldos financeiros sectoriais) derivam do quadro de análise sectorial para a análise macroeconómica das economias nacionais desenvolvido pelo economista britânico Wynne Godley.
PIB (Produto Interno Bruto) é o valor de todos os bens e serviços produzidos dentro de um país durante um ano. O PIB mede fluxos em vez de stocks (exemplo: o défice público é um fluxo, medido por unidade de tempo, enquanto que a dívida pública é um stock, uma acumulação). O PIB pode ser expresso de forma equivalente em termos de produção ou dos tipos de bens recentemente produzidos adquiridos, de acordo com a relação da Contabilidade Nacional entre despesa e rendimento agregados:
Y = C + I + G + ( X – M ) {\displaystyle Y=C+I+G+(X-M)}
onde Y é PIB (produção; equivalente, rendimento), C é despesa de consumo, I é despesa de investimento privado, G é despesa do governo em bens e serviços, X é exportação e M é importação (portanto X – M é exportação líquida).
Outra perspectiva sobre a contabilidade do rendimento nacional é notar que as famílias podem afectar o rendimento total (Y) aos seguintes usos:
Y = C + S + T {\displaystyle Y=C+S+T}
onde S é poupança total e T é tributação total líquida de transferências.
Combinando as duas perspectivas dá
C + S + T = Y = C + I + G + ( X – M ) . {\displaystyle C+S+T=Y=C+I+G+(X-M).}
Hence
S + T = I + G + ( X – M ) . S+T=I+G+(X-M).} .
Isto implica a identidade contabilística dos três balanços sectoriais – interno privado, orçamento governamental e externo:
( S – I ) = ( G – T ) + ( X – M ) . {\displaystyle (S-I)=(G-T)+(X-M).}
A equação dos saldos sectoriais diz que a poupança privada total (S) menos o investimento privado (I) tem de igualar o défice público (gastos, G, menos impostos líquidos, T) mais as exportações líquidas (exportações (X) menos importações (M)), onde as exportações líquidas são os gastos líquidos de não-residentes na produção deste país. Assim, a poupança privada total é igual ao investimento privado mais o défice público mais as exportações líquidas.
Na macroeconomia, a Teoria do Dinheiro Moderno descreve quaisquer transacções entre o sector governamental e o sector não governamental como uma transacção vertical. O sector governamental inclui o tesouro e o banco central, enquanto que o sector não governamental inclui particulares e empresas (incluindo o sistema bancário privado) e o sector externo – ou seja, compradores e vendedores estrangeiros.
Em qualquer período de tempo, o orçamento do governo pode estar em défice ou em excedente. Um défice ocorre quando o governo gasta mais do que tributa; e um excedente ocorre quando o governo tributa mais do que gasta. A análise dos saldos sectoriais mostra que, por uma questão de contabilidade, os défices orçamentais do governo acrescentam activos financeiros líquidos ao sector privado. Isto porque um défice orçamental significa que um governo depositou, ao longo de algum tempo, mais dinheiro e obrigações em participações privadas do que as que removeu nos impostos. Um excedente orçamental significa o oposto: no total, o governo removeu mais dinheiro e obrigações de explorações privadas através dos impostos do que voltou a depositar através das despesas.
Por conseguinte, os défices orçamentais, por definição, são equivalentes a adicionar activos financeiros líquidos ao sector privado, enquanto que os excedentes orçamentais removem os activos financeiros do sector privado.
Isto é representado pela identidade:
( G – T ) = ( S – I ) – N X {\displaystyle (G-T)=(S-I)-NX}
onde NX são exportações líquidas. Isto implica que a poupança líquida privada só é possível se o governo gerir défices orçamentais; alternadamente, o sector privado é forçado a dissair quando o governo gere um excedente orçamental.
De acordo com o quadro dos saldos sectoriais, os excedentes orçamentais compensam a poupança líquida; numa época de elevada procura efectiva, isto pode levar a uma dependência do sector privado do crédito para financiar padrões de consumo. Por conseguinte, são necessários défices orçamentais contínuos para uma economia em crescimento que pretende evitar a deflação. Portanto, os excedentes orçamentais só são necessários quando a economia tem uma procura agregada excessiva, e está em perigo de inflação. Se o governo emitir a sua própria moeda, o MMT diz-nos que o nível de tributação relativo às despesas governamentais (défice ou excedente orçamental do governo) é na realidade um instrumento político que regula a inflação e o desemprego, e não um meio de financiar as actividades do governo per se.